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Congresso promulga PEC do teto de gastos: "vitória do país", diz Renan

Para o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), PEC é "vitória do país" - Jane de Araújo/Agência Senado
Para o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), PEC é "vitória do país" Imagem: Jane de Araújo/Agência Senado

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

15/12/2016 11h09Atualizada em 15/12/2016 16h51

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do teto dos gastos públicos, que congela os gastos do governo por 20 anos, foi promulgada nesta quinta-feira (15) em sessão do Congresso Nacional. Esta era a última etapa formal para que a medida entrasse imediatamente em vigor.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que a aprovação da medida foi uma “vitória do país”.

“Acho que foi uma grande vitória para o país, porque a partir de agora você tem uma regra para o crescimento do gasto público”, disse Renan. “Óbvio que essa PEC por si só não vai tirar o país da crise. Nós precisamos continuar fazendo o ajuste e retomando medidas de estímulo ao crescimento econômico”, afirmou.

A PEC foi promulgada em sessão do Congresso (Câmara e Senado) realizada no plenário do Senado, com a participação de Renan (que é também presidente do Congresso) e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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Parlamentares de oposição fazem protesto em sessão que promulgou a PEC do Teto
Imagem: Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados

A sessão foi rápida e teve baixa presença de parlamentares. Parlamentares de oposição, Jô Moraes (PCdoB-MG), Fátima Bezerra (PT-RN) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) seguraram cartazes no plenário em protesto contra a medida com a frase "PEC da Morte".

 Com pouco mais de 15 minutos de duração, a sessão estava destinada apenas à promulgação da emenda constitucional do teto de gastos e a uma segunda emenda, que tratava do pagamento de precatórios (dívidas judiciais do poder público).

A PEC passou por sua segunda e última votação no Senado na terça-feira (13), quando foi aprovada por 53 votos a favor e 16 contrários. O placar indica apenas quatro votos a mais do que os 49 votos mínimos para a aprovação da emenda constitucional. 

O resultado representou oito votos a menos a favor do governo na comparação com a primeira votação, em novembro, quando 75 senadores votaram (61 a favor e 14 contra). 

A PEC tem sido duramente criticada por políticos da oposição e por setores da sociedade, principalmente por alterar regras para os investimentos em saúde, educação e no reajuste do salário mínimo

Pesquisa Datafolha apontou que a maioria dos brasileiros é contra a emenda, que foi rejeitada por 60% dos entrevistados. 

Protestos contra a PEC foram realizados em diferentes cidades do país, como Brasília, São Paulo, Porto Alegre e Recife.

Com a promulgação, a PEC se torna a Emenda Constitucional 95.

Entenda a PEC

A PEC propõe limitar o crescimento dos gastos públicos pelos próximos 20 anos ao percentual da inflação nos 12 meses anteriores. Na prática, a medida congela os gastos do governo, já que a reposição da inflação apenas mantém o mesmo poder de compra do Orçamento, ou seja, o governo continua podendo comprar a mesma quantidade de produtos e serviços.

O principal objetivo da proposta, segundo o governo, é conter o avanço da dívida pública por meio do controle nos gastos públicos. A ideia é que ao arrecadar, com impostos, mais do que gasta, o governo consiga reduzir o total da dívida.

Entre 2006 e 2015, a dívida pública do governo cresceu de 55,5% para 66,2% do PIB. No mesmo período, os gastos do governo foram de 16,7% para 19,5% do PIB.

O PIB (Produto interno Bruto) é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país a cada ano e serve como principal indicador do desempenho da economia.

A equipe econômica do governo também aposta na aprovação da medida como uma forma de reconquistar a credibilidade do mercado, o que atrairia investimentos e favoreceria o crescimento da economia.

Os defensores da medida apontam o desequilíbrio nas contas do governo como o principal argumento em defesa da PEC.

Este será o terceiro ano que o Brasil terá deficit nas contas públicas, ou seja, em que o governo gastou mais do que arrecadou. O Orçamento 2016 prevê um deficit de R$ 170 bilhões. Novos deficits nas contas são previstos pela equipe econômica do governo ao menos até 2018.

Se aprovada, no décimo ano de vigência da medida, o presidente da República poderá enviar projeto de lei complementar ao Congresso pedindo mudanças nas regras.

Saúde e educação

Uma das principais críticas à medida é a mudança nas regras dos gastos com saúde e educação. Hoje, essas áreas recebem um percentual mínimo calculado com base nas receitas do governo. Ou seja, se a economia cresce, aumentam os investimentos nas duas áreas.

A proposta do governo Temer, no entanto, fixa um novo piso para os dois setores, que passam a ser reajustados ao menos de acordo com a variação da inflação. Ou seja, os investimentos em saúde e educação ficariam congelados, mas não poderiam ser reduzidos.

Para 2017, a PEC prevê o mínimo previsto atualmente na Constituição, de 18% de impostos para a educação e de 15% das receitas do governo para a saúde. A partir de 2018, esse piso seria reajustado pela inflação do ano anterior.

Apesar de a PEC não limitar quanto pode ir para os dois setores, há a expectativa de que os orçamentos da saúde e educação sigam o aumento apenas pela inflação do ano anterior, num ritmo de crescimento menor que o que seria alcançado pelas regras anteriores.

Estudo de pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontou que a saúde pode perder até R$ 743 bilhões nos 20 anos de vigência da PEC.

Já a educação pode ter perdas no Orçamento de até R$ 25,5 bilhões por ano, segundo apontou estudo técnico da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.

Na última sexta-feira (9), o relator da ONU (Organizações das Nações Unidas) para direitos humanos, Philip Alson, afirmou que o projeto pode aprofundar os níveis de desigualdade social no Brasil. "Se essa emenda for adotada, colocará o Brasil em uma categoria única em matéria de retrocesso social", disse o relator da ONU.